quarta-feira, 8 de abril de 2009

TRADIÇÃO NA ENCENAÇÃO DA PAIXÃO DE CRISTO




Uma grande tradição na Páscoa, relembrar a paixão de Cristo no Brasil já se tornou quase uma obrigação.



Grande parte da população, segundo o IBGE, cerca de 74% dos brasileiros se declaram católicos, tornando assim o Brasil o maior país católico do mundo. Nos últimos anos, as teatralizaões dessa narrativa bíblica, que descreve o calvário de Jesus, têm crescido e em alguns casos virado ate superproduções.

A encenação ocorre no Brasil desde os municípios interioranos ate as grandes capitais.

A mais famosa encenação da paixão de Cristo no Brasil é a que acontece em Nova Jerusalém, cidade cenográfica construída próxima ao município de Brejo da Madre de Deus, no interior de Pernambuco. O costume de fazer uma encenação teatral dos últimos dias da vida de Jesus existe na região desde 1951 quando um dos fazendeiros locais resolveu celebrar a paixão de Cristo da mesma forma que os moradores de uma cidade do interior da Alemanha o faziam.

A partir da segunda metade dos anos 90, a presença de atores que participam das mais populares novelas da televisão brasileira no elenco da encenação tem aumentado a visibilidade do espetáculo, o que trouxe também maior interesse do público e dos patrocinadores, segundo os organizadores. Na edição 2008, participam da encenação o ator Thiago Lacerda, no papel de Jesus Cristo, e a Miss Brasil Natália Guimarães, como Maria Madalena.

A teatralização dos últimos momentos da vida de Jesus também ganhou ares de superprodução em uma cidade do interior de São Paulo. Encenada às margens do Rio Piracicaba, com cerca de 500 atores voluntários, em 12 palcos e com uma hora e meia de duração, a “Paixão de Cristo de Piracicaba” acontece desde 1990 e chega a atrair cerca de 30 mil pessoas durante os oito dias em que fica em cartaz. Outras 30 mil pessoas devem assistir à encenação da versão da paixão de Cristo feita na cidade de Maringá, no Paraná. Desde 2004, acontece a encenação ao ar livre na praça em frente à catedral da cidade. Já em João Pessoa, na Paraíba, a teatralização dos últimos momentos da vida de Jesus ganha elementos contemporâneos e circenses, como trapézios e camas elásticas. Em 2007, a encenação foi feita a partir do texto da dramaturga Cely de Freitas e narrava a história de Jesus a partir do olhar de três lavadeiras (Maria da Graça, Maria das Dores e Maria da Glória).

Além das teatralizações pelo Brasil, a paixão de Cristo rendeu nas últimas décadas versões cinematográficas internacionais polêmicas. “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, é a mais recente de uma série de interpretações contemporâneas dos momentos mais importantes do que teria sido a história de Jesus. Filmes como “A Última Tentação de Cristo” (1988), dirigido por Martin Scorsese, ou até mesmo a ópera-rock “Jesus Cristo Superstar” (1973), dirigida por Norman Jewison, fazem parte de uma filmografia que reflete a diversidade de interpretações que essa narrativa bíblica tem oferecido.
Na minha cidade por exemplo, Guaíra-SP essa encenação é uma tradição, acontece á mais de 10 anos e a cada ano se supera em produção, e ainda emociona cada dia mais espectadores, que fazem questão de prestigiar os atores de nossa região, que se empenham durante meses para apresentar um espetáculo digno de aplausos.
Creio que não somente os católicos prestigiem as encenações, mas independente das religiões, o sacrifício de CRISTO é sempre uma obra que vale a pena para se assitir e refletir.
Se tiver essa oportunidade não perca.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

CCBB de Brasília mostra coleção de vanguarda russa


Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov integram uma exposição inédita de obras do Museu Estatal Russo de São Petersburgo que chega agora ao Brasil.

"Virada Russa" começa amanhã para o público no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e depois segue para o Rio e São Paulo. A mostra busca traçar uma genealogia da vanguarda russa das duas primeiras décadas do século 20, sob impacto dos movimentos revolucionários de 1905 e 1917, até o realismo socialista.
Trabalhos importantes do movimento já foram trazidos ao Brasil, mas é a primeira vez que o país recebe uma exposição com esse conjunto de 123 obras. O único a merecer uma sala própria na exposição é Kazimir Maliévitch (1878-1935), apresentado em suas diversas fases e com uma de suas obras mais marcantes: a trilogia de 1923 em que se insere o "Quadrado Negro".
Suprematismo
Esse quadrado negro com um fundo branco "abriu um novo conceito de pintura" e representa "a essência da vanguarda e o suprematismo radicalizado", diz o idealizador da exposição, Rodolfo de Athayde.
O chamado suprematismo é uma das correntes dentro do movimento de ruptura, criada pelo próprio Maliévitch e que tirou a arte russa da expressão figurativa, usando novas relações de espaço e dimensão.
Segundo Athayde, talvez por trabalhar com arte conceitual, Maliévitch seja o menos conhecidos dos três russos que integram em geral a lista dos grandes artistas do século 20 --junto com Chagall e Kandinski.
A tentativa de Maliévitch de se aproximar do público foi feita em momento posterior, com a volta a um certo figurativismo que o manteve, no entanto, ainda na arte abstrata. Essas peças podem ser vistas na mesma sala que exibe a trilogia: quadros coloridos, com figuras de pessoas não identificadas e de certa forma desumanizadas.
Outra artista que pode ganhar um olhar mais apurado é Gontcharova (1881-1962), apresentada na sala dedicada ao início da "Virada". Nas telas da artista, incluindo a polêmica série de apóstolos, está condensada uma das características desse momento inicial: a influência do camponês e das artes populares. Outra presença forte é a do ícone bidimensional, figura forte na arte russa que mostra a influência do místico e do religioso.
Na mesma sala, em destaque, estão telas de Filónov (1883-1941), uma boa surpresa na exposição, com suas cenas de sofrimentos cotidianos e graus diferentes de abstracionismo.
Divide o espaço com Filónov o "Contra-Relevo de Esquina" (1914), de Vladimir Tátlin (1885-1953), nome central do construtivismo.
Aleksandr Rodtchenko (1891-1956) também pode ser visto em telas e em um vídeo que reconstrói objetos do artista não preservados.
Misturadas entre as obras que podem ser menos conhecidas para o público estão as populares telas de Vassili Kandinski (1866-1944) e "Passeio", de Marc Chagall (1887-1985).
Pressão do totalitarismo
A rápida transformação da arte nas duas primeiras décadas do século 20 foi rejeitada com a emergência do stalinismo e o fortalecimento do realismo socialista, nos anos 30.
"Os artistas sentem a pressão do totalitarismo. Todas as tendências formalistas são excluídas de forma radical. São obrigados a voltar de forma brutal ao figurativismo e à aplicação industrial", diz Petrova.
No realismo socialista, o entendimento do que deveria ser a arte se torna "limitado", salienta Evandro Salles, curador de uma exposição de cartazes russos em 2001. "Queriam instrumentalizar a arte, transformar o artista em publicitário."
A exposição retrata o início desse período, com obras que mostram experiências em cartazes, louças, roupas e tecidos e que trazem incrustadas as inovações das vanguardas --postas a serviço do Estado totalitário soviético. Os artistas que não seguiram a nova linha acabaram sumindo para o grande público. As vanguardas só viriam a ser "redimidas" nos anos 80.
No fim do mês, em Brasília, o CCBB também vai exibir filmes de cineastas envolvidos na vanguarda, como Dziga Vertov. Não há confirmação se os filmes seguem também para o Rio e São Paulo.

Matéria extraída
da Folha de S.Paulo (online), em Brasília.
JOHANNA NUBLAT